Há razões de sobra; a menor delas, para evitar que uma comunicação ruim e malfeita comprometa a credibilidade de um trabalho de pesquisa |
A pergunta do título provavelmente não causaria alarde e talvez nem fosse feita ao dirigente de uma indústria modema e empenhada em cultivar os conceitos associados a marketing para relacionar-se com o mercado. Diante dela, a resposta desse dirigente seria simples e direta: "Se não me comunicar, estou fora do mercado". Todos entenderiam. Mas cabe espanto quando a questão é dirigida a uma instituição brasileira que é ao mesmo tempo pública, e de ciência e tecnologla. Ou melhor, cabia espanto. Não cabe mais. Há muito tempo o diaa-dia vem derrubando as n-útológicas diferenças entre instituições públicas e privadas. Se antes convivíamos com o maniqueísmo, e o público e o privado eram comparados a mocinho e bandido, hoje sabemos que a busca por competitividade, por qualidade, por sustentabilidade e pela sobrevivência é comum a todos. Atualmente, entes públicos também quebram.
Uma das coisas mais claramente positivas dos novos tempos (sem falar da globalização, que, como o EI Niño, é culpada por tudo que acontece de mau) é a consciência de que nós, instituições públicas, brasileiras e de ciência e tecnologia, também pertencemos a uma cadeia produtiva - a de produção de soluções tecnológicas -, que por sua vez é um segmento presente em todas as demais cadeias produtivas da economia mundial.
Temos os mesmos compromissos com eficiência e eficácia que os outros segmentos. Seja qual for o produto do nosso trabalho, temos o compromisso de entregá-lo pronto, devidamente acabado, segundo a demanda e expectativa dos nossos clientes, imediatos e finais.
Estes são os que determinam a dimensão de nossa responsabilidade: nosso trabalho, na Embrapa, tem também vlnculação estreita com a alimentação e o bem-estar das pessoas portanto, com a vida.
Fazer isso nada mais é do que ter comunicação permanente ao longo de todo um continuum de atividades. Comunicação não é apenas a promoção unilateral de um produto, mas um processo de conferências com os interessados para garantir que, ao final, teremos o produto desejado.
Na Embrapa, Marketing e Comunicação Empresarial não se limitam à promoção do diálogo entre empresas.
Sua ação não pode excluir a Sociedade e deve nos ensinar o compromisso de falar como Empresa.
As pessoas têm um enorme grau de liberdade no que concerte à comunicação: podem abraçar qualquer causa, podem sustentar qualquer opinião por mais tola que seja, podem dar ouvidos ao que quiser. O dano que podem causar está contido na limitação física e no seu comprorrússo mínimo com a chamada "opinião pessoal". Mas como Empresa, na condição de empregado de uma empresa, o comprorrússo da pessoa é infinitamente maior.
Ninguém imagina que empresas, por mais livres que se sintam, se dêem ao luxo de esgrimir opiniões sem pesar conseqüências, já que estão obrigadas a se posicionar quanto a interesses de terceiros.
Isto faz parte do seu contrato social e é particularmente claro no caso das empresas públicas, às quais a sociedade delega o papel de áibiú-os de impasses e conflitos.
Portanto, na maioria das vezes, a mensagem de um empregado não é recebida como opinião, mas como juízo.
A comunicação empresarial que estamos implantando na Embrapa busca deixar claros, em cada interação de comunicação, os compromissos específicos que temos com a sociedade.
Isso se dá por meio do rigor e da precisão na comunicação científica, por intermédio d,à comunicação social voltada para a prestação de contas à sociedade, e da negociação justa e ética dos interesses da empresa na comunicação governamental e mercadológica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em qualquer interação de comunicação, o compromisso maior a ser atendido é o da cidadania.
O cidadão tem a tarefa e o dever de decidir o destino do país e o de suas instituições. A isso junte-se o postulado da competitividade na economia de mercado, só aceitável quando assegurado o postulado da democracia - que reside em garantir a todos o mesmo acesso à informação e às condições iguais de competição.
É direito do cidadão receber a melhor instrução e a melhor informação possível, para decidir e para competir.
Nenhuma empresa (nem seus empregados) pode ter desempenho em comunicação tão ruim a ponto de afetar esse direito. Se não fosse a única, esta é uma boa razão para o investimento em comunicação empresarial.
FONTE: http://www.aberje.com.br/antigo/revista/n25/artigo7g.htm#7
ELABORADO POR:
Alberto Duque Portugal
- agrônomo e presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).